Sindone di Torino
( Sudário de Turim )O Sudário de Turim (em italiano: Sindone di Torino) ou Santo Sudário (em italiano: Sacra Sindone [ˈsaːkra ˈsindone] ou Santa Sindone) é um pedaço de pano de linho com o negativo da imagem de um homem. Alguns descrevem a imagem como representando Jesus de Nazaré e acreditam que o tecido é o mortalha fúnebre no qual ele foi envolto após a crucificação.
Mencionado pela primeira vez em 1354, o sudário foi denunciado em 1389 pelo bispo de Troyes como sendo falso. Atualmente a Igreja Católica não endossa nem rejeita formalmente o sudário e, em 2013, o Papa Francisco referiu-se a ele como um "ícone de um homem flagelado e crucificado". O sudário é guardado na capela real do Catedral de Turim, no norte da Itália, desde 1578.
Em 1988, a datação por radiocarbono por três laboratórios di...Ler mais
O Sudário de Turim (em italiano: Sindone di Torino) ou Santo Sudário (em italiano: Sacra Sindone [ˈsaːkra ˈsindone] ou Santa Sindone) é um pedaço de pano de linho com o negativo da imagem de um homem. Alguns descrevem a imagem como representando Jesus de Nazaré e acreditam que o tecido é o mortalha fúnebre no qual ele foi envolto após a crucificação.
Mencionado pela primeira vez em 1354, o sudário foi denunciado em 1389 pelo bispo de Troyes como sendo falso. Atualmente a Igreja Católica não endossa nem rejeita formalmente o sudário e, em 2013, o Papa Francisco referiu-se a ele como um "ícone de um homem flagelado e crucificado". O sudário é guardado na capela real do Catedral de Turim, no norte da Itália, desde 1578.
Em 1988, a datação por radiocarbono por três laboratórios diferentes estabeleceu que o material de linho do sudário foi produzido entre os anos 1260 e 1390 (para um nível de confiança de 95%). Os defensores da autenticidade do sudário questionaram esses resultados, geralmente com base no fato de que as amostras testadas podem ter sido contaminadas ou retiradas de um reparo no tecido original. Essas teorias marginais foram refutadas por especialistas em datação por carbono e outros com base em evidências do próprio sudário, incluindo a teoria do reparo medieval, as teorias da biocontaminação e a teoria do carbono teoria do monóxido. Embora aceito como válido por especialistas, a datação por carbono do sudário continua a gerar um debate público significativo. A natureza e a história do sudário têm sido objeto de extensas e duradouras controvérsias tanto na literatura acadêmica quanto na imprensa popular.
A imagem no sudário é muito mais clara em preto e branco negativo — observado pela primeira vez em 1898 — do que em sua cor sépia natural. Vários métodos têm sido propostos para a formação da imagem, mas o método real utilizado ainda não foi identificado de forma conclusiva. O sudário continua a ser intensamente estudado e permanece uma questão controversa entre cientistas e estudiosos bíblicos. O Sudário está guardado na Catedral de Turim, na Itália, desde o século XIV. Pertenceu desde 1357 à casa de Saboia que em 1983 o doou ao Vaticano. A peça é raramente exibida em público, sendo que a última grande exposição, feita em 2010, atraiu mais de dois milhões de fiéis.
As primeiras referências a um possível sudário surgem na própria Bíblia. O Evangelho segundo Mateus (Mateus 27:59) relata que José de Arimateia envolveu o corpo de Jesus com um pano de linho limpo. O Evangelho segundo João (João 19:38–40) também descreve o evento, e relata que os apóstolos Pedro e João, ao visitar o túmulo de Jesus após a ressurreição, encontraram os lençóis dobrados (João 20:6–7). Embora depois desta descrição evangélica o sudário só tenha feito sua aparição definitiva no século XIV, para não mais ser perdido de vista, existem alguns relatos anteriores que contêm indicações consistentes sobre a existência de um tal tecido em tempos mais antigos.[1][2][3]
A primeira menção não evangélica a ele data de 544, quando um pedaço de tecido mostrando uma face que se acreditou ser a de Jesus foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa. Suas primeiras descrições mencionam um pedaço de pano quadrado, mostrando apenas a face, mas João Damasceno, em sua obra anti-iconoclasta "Sobre as Imagens Sagradas", falando sobre a mesma relíquia, a descreve como uma faixa comprida de tecido, embora afirmasse que se tratava de uma imagem transferida para o pano quando Jesus ainda estava vivo, isto é, não seria uma mortalha, mas sim um tecido que esteve em contato com Cristo ainda vivo (veja Imagem de Edessa).[4]
Em 944, quando esta peça foi transferida para Constantinopla, Gregorius Referendarius, arquidiácono da basílica de Santa Sofia pregou um sermão sobre o artefato, que foi dado como perdido até ser redescoberto em 1004 num manuscrito dos arquivos do Vaticano.[1][2] Neste sermão é feita uma descrição do sudário de Edessa como contendo não só a face, mas uma imagem de corpo inteiro, e cita a presença de manchas de sangue. Outra fonte é o Codex Vossianus Latinus, também no Vaticano, que se refere ao sudário de Edessa como sendo uma impressão de corpo inteiro.[3]
Outra evidência é uma gravura incluída no chamado Manuscrito Húngaro de Preces,[5] datado de 1192, onde a figura mostra o corpo de Jesus sendo preparado para o sepultamento, numa posição consistente com a imagem impressa no sudário de Turim.
A gravura no "Manuscrito Húngaro de Preces"Em 1203, o cruzado Roberto de Clari afirmou ter visto o sudário em Constantinopla nos seguintes termos: Lá estava o sudário em que nosso Senhor foi envolto, e que a cada quinta-feira é exposto de modo que todos possam ver a imagem de nosso Senhor nele.[6] Seguindo-se ao saque de Constantinopla, em 1204, Teodoro Ângelo, sobrinho de um dos três imperadores bizantinos, escreveu uma carta de protesto ao papa Inocêncio III, onde menciona o roubo de riquezas e relíquias sagradas da capital pelos cruzados, e dizendo que as jóias ficaram com os venezianos e relíquias haviam sido divididas entre os "francos", citando explicitamente o sudário, que segundo ele havia sido levado para Atenas nesta época.[7][8]
Dali, a partir de testemunhos de época de Godofredo de Villehardouin e do mesmo Roberto de Clari, o sudário teria sido tomado por Otão de la Roche, que se tornou Duque de Atenas. Segundo a pesquisadora italiana Barbara Frale, os templários teriam mantido o sudário por um século em sua posse e o levaram à França.[9] Ainda há controvérsia se a Imagem de Edessa (chamado Mandílio) seria o mesmo de Turim, em vista de referências que indicariam sua presença em Constantinopla até 1362, cinco anos após sua aparição no Ocidente.[10]
Século XIVO sudário reapareceu na França por volta de 1349 em poder de Godofredo de Charney, senhor de Lirey, próximo de Troyes.[11]
Henrique de Poitiers, arcebispo de Troyes, apoiado mais tarde pelo rei Carlos VI de França, declarou o sudário como uma impostura e proibiu a sua veneração. A peça conseguiu, no entanto, recolher um número considerável de admiradores que lutaram para a manter em exibição nas igrejas.
Em 1389, o bispo Pierre d’Arcis (sucessor de Henrique) denunciou a suposta relíquia como uma fraude fabricada por um pintor talentoso, numa carta a Clemente VII (antipapa em Avinhão). D’Arcis menciona que até então tem sido bem sucedido em esconder o pano e revela que a verdade lhe fora confessada pelo próprio artista, que não é identificado. A carta descreve ainda o sudário com grande precisão.
Aparentemente, os conselhos do bispo de Troyes não foram ouvidos visto que Clemente VII declarou a relíquia sagrada e ofereceu indulgências a quem peregrinasse para ver o sudário.[12]
Século XVEm 1415, devido às pilhagens da Guerra dos Cem Anos, Margarita de Charny, neta de Godofredo e casada com Humberto de Villersexel, conde de La Roche, retirou o sudário da Colegiata de Lirey e o colocou no castelo de seu marido, no povoado de Saint Hippolyte-sur-le Doubs.[11]
Pintura de Giulio Clovio mostrando o sudário e a forma como Jesus foi envolvidoQuando Margarita enviuvou de Humberto, passou a expor o sudário no castelo, em troca de donativos, devido à sua precária situação financeira.[11] Possivelmente devido a esta situação, em 22 de março de 1453 o sudário foi transferido a Luís, duque de Saboia, mediante contrato assinado em Genebra.[11] Pelo mesmo contrato, o duque de Saboia cede a Margarita o castelo de Varambon e as rendas do senhorio de Mirabel, próximo a Lyon.[11] O contrato declara que a cessão do castelo é "pelos numerosos e importantes serviços que a condessa de la Roche prestou ao duque de Saboia".[11] Assim o sudário passou a ser propriedade da Casa de Saboia, sob queixas dos cônegos de Lirey que se consideram donos do lençol.[11]
Em 1502, o sudário foi depositado na Capela Santa do castelo dos duques em Chambéry.[11]
Século XVI aos nossos diasNa noite de 3 para 4 de dezembro de 1532, o sudário foi danificado por um incêndio que afectou a sua capela e pela água das tentativas de o controlar.[11] O sudário estava guardado numa urna de prata — presenteada por Margarida da Áustria em 1509 — e o fogo provocou o derretimento parcial da prata.[11] Os pingos de prata derretida deixaram perfurações simétricas no sudário, uma vez que o lençol estava dobrado quarenta e oito vezes.[11] Também as bordas dessas dobras, em contato com o metal incandescente, ficaram chamuscadas.[11] A água impregnou o sudário, produzindo manchas em forma de losangos devido às dobraduras, as quais aparecem simetricamente em toda a peça quando é estendida.[11]
Em 1562, a capital do Ducado de Saboia foi transferida de Chambéry para Turim e, em 1578 a peça foi levada para a catedral de Turim, onde está até hoje na Cappella della Sacra Sindone do Palácio Real de Turim.[13]
A casa de Saboia foi a proprietária do sudário até 18 de março de 1983, quando o ex-rei da Itália, Humberto II, ao morrer o legou à Santa Sé.[11] Em 2002, o sudário foi submetido a obras de restauro.
O restauro de 2002No inverno de 2002, o sudário foi submetido a uma grande restauração que chocou a comunidade de pesquisadores e foi condenada por muitos.[14] Autorizada pelo arcebispo de Turim como uma medida benéfica de conservação, a operação foi baseada na reclamação que o material em torno dos furos de queimadura (dos incêndios pelo qual o sudário passou em pelo menos duas ocasiões) estavam causando contínua oxidação que iriam com o tempo ameaçar a imagem. A operação foi rotulada como cirurgia desnecessária que destruiu dados científicos, removeu os reparos de 1534 que eram parte da herança do sudário, e destruiu oportunidades de pesquisa sofisticada.[14]
Em 2003, a principal restauradora, Mechthild Flury-Lemberg, especialista suíça em tecidos, descreveu a operação e as razões pelas quais ela a considerou necessária.[15]
Em 2005, William Meacham, arqueólogo que estuda o sudário desde 1981, criticou ferozmente a restauração, rejeitou as razões apresentadas por Flury-Lemberg e classificou a operação como "um desastre para o estudo científico da relíquia".[16]
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